A OVO DOAÇÃO FIGURA COM INCIDÊNCIA cada vez maior entre os recursos empregados para a reprodução assistida, especialmente por mulheres mais velhas (mais de 40 anos). Neste capitulo mostraremos quando e como ela é empregada. Além disso também descreveremos a chamada “barriga de aluguel” para mulheres incapazes de gestar. A utilização de bancos de Sêmen diminuiu por causa da Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI), mas ainda beneficia casais que não podem recorrer a essa técnica.
Recorrendo ao banco de sêmen
Sair com um bebê nos braços da maternidade, a partir do recurso à doação de sêmen, é possível para qualquer casal cujo problema seja um quadro de esterilidade masculina irreversível, suspeita de impedimentos genéticos do homem, ou que, por qualquer outra razão relacionada com a saúde masculina, não se enquadrem nos casos para tratamento com FIV ou ICSI. Há casais que optam pela doação por rejeitarem a ideia de tratamentos prolongados ou porque as primeiras tentativas de fertilização assistida não tiveram êxito, em razão de má qualidade do espermatozoide. Esta alternativa, naturalmente, implica que a mulher esteja com as suas funções reprodutivas em ordem, ou que essas condições sejam obtidas mediante tratamento.
O acesso ao banco de sêmen e providenciado pelo médico, a partir de uma decisão do casal. Antes que isso ocorra, todo o tempo que os parceiros precisarem para refletir, buscar aconselhamento psicológico e conquistar segurança para sua escolha, deve ser respeitado. Os passos seguintes em direção à gravidez são simples e animadores. O sêmen a ser utilizado vem de um doa dor anônimo e saudável que, obrigatoriamente, tenha passado por exames exigidos pelo banco de sêmen. Qualquer duvida ou insegurança quanto à qualidade e padrão de exigências do banco utilizado deve ser solicitada ao médico. A amostra de sêmen chega congelada a clínica de reprodução, conservando todas as características da amostra quando colhida, e será utilizada no momento em que a mulher, a partir do uso de indutores de reforço à fertilidade, estiver com os óvulos maduros para a fecundação. As técnicas mais frequentemente empregadas são inseminação intrauterina e FIV.21
Preservando o próprio sêmen
A infertilidade masculina pode se consumar por causas anunciadas. Homens com produção satisfatória do sêmen que, diagnosticados de outras doenças, são encaminhados para cirurgias de extração dos testículos, devem saber que suas funções reprodutivas estarão encerradas a partir da operação. O banco de sêmen não atende apenas doadores anônimos mas também aqueles que ainda desejam ter filhos mas não poderão gerar novos espermatozoides no futuro. Só nestes casos o congelamento de sêmen para beneficio próprio é recomendado. Há uma queda do número e qualidade dos espermatozoides com a idade, entretanto esta não é tão pronunciada e absoluta como no caso da mulher.22
A ovo doação
A ovo doação é feita desde o inicio da década de 90 nas clinicas brasileiras de reprodução, Tecnicamente, trata–se da fertilização in vitro de óvulos coletados de uma doadora, fecundados com o espermatozoide do futuro pai, e que de pois são transferidos para as trompas ou útero da futura mãe, a receptora. Objetivamente, é possibilidade de realizar o sonho da gravidez por mulheres que não podem ovular, em razão de problemas congênitos, doenças ou mesmo da idade, mas que tenham o útero em condições de promover a gestação. A criança que virá ao mundo trará o código genético do pai e da mãe biológica – a doadora – mas terá toda a sua formação embrionária e fetal no útero da mãe receptora, numa gravidez que em nada difere de outras. Pelo menos não por esse motivo. O fundamental, na ovo doação, e a maturidade emocional e psicológica do casal que opta por esse caminho, o que afinal também é recomendável para qualquer casal que decida ter um bebé.
As receptoras em função da idade
As mulheres mais velhas encontram na ovodoação a tranquilidade e segurança de que serão receptoras de óvulos jovens, de boa qualidade, coletado de uma doadora anônima e saudável. Os óvulos liberados pelas gónadas durante toda a vida reprodutiva da mulher já existem em seu corpo desde o nascimento. A cada ciclo fértil (em que a ovulação de fato ocorre), ima certa quantidade amadurece e, não havendo fecundação, é eliminada. O passar dos anos resulta, ao mesmo tempo, na diminuição do estoque (que tem sua falência na menopausa) e na possível perda de qualidade das células. A deterioração dos óvulos para efeito de fecundação não é, naturalmente, um imperativo para mulheres menos jovens que ainda ovulam e menstruam, tanto que são frequentes nascimentos de bebês saudáveis, filhos biológicos de mulheres que estão encerrando sua vida reprodutiva. Durante um processo de micromanipulação dos óvulos, quando são fecundados por micro injeção do espermatozoide, o médico pode perceber quando há mudanças associadas ao tempo de vida do ovário em algumas (não é uma regra geral) candidatas próximas da menopausa. São maiores, para elas, as chances de que a fecundação não ocorra mesmo com as mais sofisticadas técnicas da medicina. Aumentam também as chances de doenças genéticas, como a Síndrome de Down e outras que, quase sempre, podem ser detectadas em exames precoces da gravidez. Essas preocupações ou impedimentos definitivos em razão da idade estão entre os principais motivos da procura pela ovodoação.”
As receptoras por deficiência na produção de óvulos
Uma importante fatia da clientela da ovodoação é motivada pela incapacidade de produzir óvulos de mulheres ainda jovens. As causas são diversas e, em muitos casos, não há como eliminá–las.. A menopausa precoce pode ser resultado de alguma enfermidade ou tratamentos como a quimioterapia. Mas, enquanto um conceito, significa apenas que o tempo de vida reprodutiva daquela mulher, – acredita–se que por razões genéticas– é menor.
Tratamentos hormonais poderão devolver o equilíbrio orgânico com patível com a idade, eliminar ou postergar desconfortos característicos da menopausa, mas não poderão renovar o estoque de folículos ou forçar as gónadas a reiniciar suas atividades hormonais ou reprodutivas. Tudo é diferente quando se trata do útero. Este, estimulado por hormônios, é capaz de preparar–se naturalmente para receber um embrião e levar adiante uma gravidez saudável. Uma vez feita a transferência de óvulos fertilizados em laboratório com o sêmen do parceiro, com o devido abastecimento hormonal da futura mamãe por medicamentos, qualquer outra atividade ovariana da mulher grávida é dispensada pela natureza. A preservação do útero, por tanto, permite a gravidez, por ovodoação, de mulheres que por qualquer razão tenham perdido suas gónadas: infecções, malformação congênita, doenças ou cirurgias.
As doadoras
Embora sem contatos pessoais e mantidas no anonimato, futuras doadoras e receptoras de óvulos possuem um vínculo psicológico que favorece a decisão de uma e de outra. As doadoras geralmente são mulheres que vivenciam o mesmo drama de lutar contra problemas de fertilidade para ter seu bebê, mas que, ao contrário das receptoras, não tem dificuldades de ovulação. Elas são contatadas em clinicas ou serviços de medicina reprodutiva, pertencendo portanto a um grupo de mulheres mais sensibilizadas frente ao desejo de maternidade de outras que se encontram em condições semelhantes. Como, por necessidade própria, terão que cumprir todas as etapas de indução ovulatória e coleta das células, a decisão de doar não acarreta transtornos clínicos ou tratamentos adicionais, e se transforma num gesto significativo de solidariedade humana.
O processo da ovodoação
O tempo de espera por um óvulo doado varia de uma semana a 90 dias. O tratamento só é definido depois de diagnosticadas as causas da infertilidade e avaliado o estado geral da saúde da receptora. As candidatas a doar e receber respondem a um questionário para rastrear as doenças genéticas até a segunda geração. Na medida do possível, o médico cuidará para que a doadora tenha características físicas semelhantes as da futura mãe ou seu marido. Toda a fase de indução e monitoramento da ovulação será cumprida pela doadora, até a coleta. A sincronização com a receptora será feita através de hormônios para que, no momento da chegada dos embriões ao útero, seu endométrio esteja preparado para que haja o implante de pelo menos um. Confirmada a gravidez, os cuidados seguintes se resumem a um período de emprego de progesterona para assegurar o desenvolvimento do embrião. Mulheres na menopausa tomam doses desse hormônio até a 14a semana de gravidez.?
A barriga de aluguel
A barriga de aluguel é, tecnicamente, uma situação muito parecida com a ovo doação, mas com papéis invertidos. O óvulo de uma mulher é fertilizado e transferido para o útero de outra, que vai gestá–lo. Na ovodoação, a fornecedora do óvulo é mantida no anonimato e a verdadeira mãe do bebé é aquela que o terá crescendo no útero, após a transferência do embrião. No caso da barriga de aluguel, não é possível o anonimato. Quem fornece o óvulo é a própria mãe biológica do bebé, que o terá nos braços após o nascimento. O óvulo será fecundado em laboratório com esperma de seu parceiro, mas a gravidez se desenvolverá na barriga de outra mulher.
O termo barriga de aluguel popularizou–se por ser uma maneira coloquial de dizer que as condições adequadas para a gestação foram “emprestadas” por outra mulher. Isto, no entanto, não significa de forma nenhuma que é possível contratar uma pessoa para gerar a criança de outra. Trata-se, na realidade, de “útero de substituição”, um gesto de grande altruísmo.
A barriga de aluguel só é recomendada para mulheres que apresentem infertilidade de causa uterina não tratável, como, por exemplo, aquelas que perderam o útero em razão de um tumor grave, tiveram o útero seriamente lesado em alguma curetagem ou nasceriam sem útero por fatores congênitos. Muitas dessas mulheres possuem um ciclo hormonal em pleno funcionamento, com boa ovulação, e tem um parceiro com boa produção de espermatozoides: tudo o que é necessário para a fecundação. No entanto, elas dependem de um útero alheio que possa abrigar e desenvolver o bebê.
Os casos de barriga de aluguel são bem mais raros do que os de ovodoação. Um dos motivos para isso é que há muitas mulheres com problemas de ovulação, principalmente aquelas que deixaram a gravidez para mais tarde e acabam precisando de um óvulo doado. Por outro lado, mulheres que trào têm qualquer condição uterina para a gravidez –e que nunca tiveram filhos antes de perder o útero – são muito poucas comparativamente. Outro motivo é a questão do anonimato, que não é possível nos procedimentos de barriga de aluguel.
Mais do que uma doadora, a mulher que decide ter um filho gestado em um útero alheio precisa de uma verdadeira amiga. Além disso, é necessário que haja traços sanguíneos até 2° grau entre as duas mulheres. A futura mãe biológica tem de encontrar alguém de sua plena confiança que esteja disposta a uma grande doação pessoal. Por tudo isso, a medicina tem critérios rigorosos quanto à indicação da gestadora. Deve ser uma parente de até segundo grau mãe, irmã, prima ou sobrinha; e a condição é que o empréstimo do útero não
seja um “serviço” pago.
Tanto a mãe biológica quanto a gestadora passam por tratamento para que a barriga de aluguel ocorra. A primeira passa por um controle de ovulação e de pois pela cirurgia para retirada do óvulo que será fecundado em laboratório pelo espermatozoide de seu parceiro, em um procedimento idêntico à fertiliza
ro esteja receptivo no momento da transferência. Isso é feito com medicamentos que bloqueiam o ciclo hormonal, seguidos de outros que deixam o útero da mesma forma que estaria logo após a ovulação: pronto para um embrião.
No caso de uma barriga de aluguel, a transferência dos embriões é feita da mesma forma que em uma fertilização in vitro.
DIÁRIO DE UM ESTERILEUTA
Quando nem a distância é um problema
Certa vez, atendi um caso que envolvia duas mulheres que moravam em cidades diferentes, uma em São Paulo e outra em Fortaleza. Elas eram primas–irmãs e, antes de chegar ao consultório, já haviam tomado juntas a decisão de levar em frente o método da barriga de aluguel para que uma delas pudesse ter um bebê.
A futura mãe biológica tinha 23 anos, mas nascera com “útero rudimentar sólido“, ou seja, má–formação do sistema embrionário que desenvolve o útero. Com o órgão pequeno demais, ela nem menstruava. No entanto, tinha os ovários perfeitos e funcionando regularmente. Já sua prima, com 20 anos de idade, tinha uma boa saúde reprodutiva e a decisão de socorrer a parente.
As duas passaram pelo tratamento e, formado o embrião na estufa, foi feita a transferência e a gravidez seguiu com sucesso.
Essas duas mulheres eram casadas e a solução que encontraram para que os pais biológicos pudessem acompanhar a gestação de perto foi a mudança de um dos casais para Fortaleza. Quem se mudou foi a gestadora, ou seja, a doadora da barriga para a gravidez que permitiu que sua prima tenha hoje o tão desejado filho nos braços.
Esse caso foi um bom exemplo de quanto a pessoa que se dispõe a ajudar uma parente nessas circunstâncias precisa estar disposta a doar–se, tanto na preparação quanto durante os nove meses de gestação, sempre desejando sinceramente que a outra realize o sonho de ser mãe.