COM CAUSAS VARIADAS, algumas até sem explicação aparente, a infertilidade está presente nas estatísticas de todos os países. Os índices e métodos de pesquisas variam, mas há uma margem de incidência da infertilidade que vai de 8 a 15%.” Ou seja, de cada 100 casais em idade reprodutiva, oito a quinze podem ser inférteis. Os pesquisadores e profissionais que lidam com a reprodução humana trabalham com uma média de 10%.
As estimativas da Organização Mundial de Saúde indicam que de cada 100 casais, pelo menos vinte têm algum grau de dificuldade de engravidar, 2+ porém parte deles resolve espontaneamente o problema, realizando o sonho de embalar o filho no berço. As aparentes discrepâncias desses dados estatísticos estão relacionadas à população investigada durante o estudo. Se o foco da investigação for uma população com mais de 35 anos, os números de infertilidade sobem de uma maneira significativa. No entanto, apenas 5% batem na porta das clínicas de medicina reprodutiva em busca de ajuda especializada.
Em geral, os tratamentos de fertilização in vitro – o popular bebé de pro veta –, que promovem o encontro entre óvulos e espermatozoides em labora tório, é a última esperança de quem já tentou de tudo para ter direito a trocar as fraldas de seu próprio bebê. Como mencionado, a chance de gravidez por tentativa varia em torno de 30% nesse método de reprodução assistida. Com o objetivo de melhorar essa taxa, começaram a surgir novas técnicas para melhorar as condições do embrião e também para facilitar seu desenvolvimento dentro do útero.
A tábua de vida
Há uma medição das chances de gravidez que se chama tábua de vida. Ela considera o fato de que, a cada ciclo, as chances naturais de um casal engravidar são de aproximadamente 17,5%.5 Ou seja, mesmo sem nenhum problema de fertilidade, o casal pode ter relações e não conseguir a fecundação naquele mês, lentando novamente no mês seguinte. Para pensar nas chances de um casal, isoladamente, durante um determinado período de tentativas, os pesquisadores fazem um tipo de estudo por eliminação. De um grupo de 100 casais decididos a engravidar, 17 a 18 alcançam seu objetivo no primeiro mês (17,5%). No segundo mês, dos 82 ou 83 que continuam tentando, os 17,5% equivalem a apenas 14 ou 15 casais que obterão sucesso. Sobram então menos de 70 casais. Aplicando se novamente os 17,5%, 11 ou 12 conseguem a fecundação no terceiro mês. No decorrer de um ano, a curva de sucesso pode chegar a 90%. Ou seja, 90 casais conseguem a desejada gravidez. Os outros 10% devem procurar ajuda.
A tendência é que aumente o número de mulheres que recorre aos serviços de medicina reprodutiva nos próximos anos. Isso porque muitas mulheres estão preferindo ter filhos depois dos 35 anos, fase em que já consolidaram conquistas profissionais e pessoais. Ocorre que, nessa etapa da vida, já se nota a diminuição das taxas de fertilidade e da qualidade dos óvulos, o que reduz ainda mais as chances de engravidar. Para se ter uma ideia, a possibilidade de engravidar por métodos naturais oscila entre 20% e 25% em cada tentativa até os 30 anos de idade. Nos dez anos seguintes, as taxas de gravidez de 10% a 15%. Após os 40 anos, giram em torno de 10%. Mas não é só. Nesse período, aumentam também as chances interrupção da gravidez, reduzindo a possibilidade de ter um bebê nos braços para 5%.”
Os fatores socioeconômicos
Essa tábua de vida que vai achatando com o tempo, é confirmada nas observações feitas em hospitais que atendem casos de infertilidade e nas pesquisas com casais voluntários. No entanto, dentro da média de 10% de casais inférteis, os principais motivos que impedem a gravidez desejada variam muito em função do grupo sócio–economico ao qual o casal pertence.
Nos países mais desenvolvidos, observa–se que mais de 40% das causas de infertilidade feminina são a ovulação. Em segundo lugar, vem a endometriose e, em terceiro, os fatores obstrutivos, que correspondem a menos de 30%.
Em países com maiores problemas sócio–economicos e de saúde publica, as causas obstrutivas imperam. Concorrem para isso abortos feitos sem assistência adequada, infecções, laqueaduras e outras formas de esterilização. É O que se observei nos casos que chegavam ao Hospital Brigadeiro, instituição paulistana que até 2007 oferecia serviços públicos gratuitos de assistência reprodutiva, onde já foram registrados índices de até 65% de diagnósticos de in fertilidade feminina por obstrução de trompa
Nos consultórios particulares de reprodução assistida, os índices brasileiros são equivalentes aos do primeiro mundo. Os casos femininos com maior incidência são de endometriose e de Síndrome do Ovário Policístico, ambos associados a distúrbios hormonais.
Também é maior nos consultórios particulares, em relação aos serviços publicos, o índice de casos em que os fatores de infertilidade são masculinos. Isso não quer dizer que os homens das classes econômicas privilegiadas tenham mais problemas de infertilidade do que os mais pobres. Significa, isto sim, que os homens das camadas economicamente interiores da população têm mais resistência a expor problemas desse tipo e a submeter–se a tratamentos >>
Algumas explicações concorrem para que os clientes particulares sejam um pouco mais presentes na busca de soluções para o casal, pelo menos na fase da investigação de problemas. Os padrões sexistas que impregnaram a cultura e determinam papéis e comportamentos de gênero se expressam em todas as classes sociais, mas os homens de classe média ou alta pelo menos dispõem de mais recursos de informação e educação para identificar e reconhecer seus problemas. Também possuem recursos económicos para buscar atendimento em lugares onde sua individualidade e privacidade sejam mais protegidas do que nos poucos hospitais públicos que atendem casos de infertilidade.
Além disso, os programas de esterilização e práticas de aborto sem assistência médica a que se submetem principalmente as mulheres das classes populares determina que, entre as demandas registradas na rede publica, os maiores índices sejam de infertilidade por fatores obstrutivos femininos. Nesse universo, os fatores masculinos acabam por se diluir.