Uma conversa de médico para paciente
MEU PRINCIPAL OBJETIVO AO ESCREVER ESTE LIVRO foi esclarecer as dúvidas mais comuns que você, leitor, pudesse ter sobre os tratamentos em Reprodução humana. Para isso, era fundamental discutir e explicar as causas e tratamentos da infertilidade feminina e masculina, além, é claro, de abordar os principais métodos de reprodução assistida. Espero que ao terminar a leitura deste livro, você tenha efetivamente adquirido uma visão mais clara e realista da reprodução humana e do tratamento da infertilidade. Antes de encerrar o livro, no entanto, eu gostaria de fazer algumas ponderações finais que considero de suma importância para o sucesso dos tratamentos em reprodução humana.
Um dos pontos que quero enfatizar é que a reprodução humana é um evento de baixa eficiência. Ao contrário de outros mamíferos, cuja chance de fertilização e implantação do embrião no útero chega até a 95%, a probabilidade de a gravidez ocorrer em determinado mês em uma mulher não ultrapassa 20%. Em decorrência dessa baixa eficiência de nossa espécie, todos os tratamentos de infertilidade devem considerar a possibilidade de não surtirem eleito em determinado ciclo, refletindo a própria fisiologia natural da reprodução. Estou reforçando esse dado pois é a partir dele que devemos raciocinar para propor um tratamento correto de infertilidade. Além disso, essa baixa eficiência da reprodução humana toma a repetitividade e a persistência no trata mento extremamente importantes para que se alcance um resultado positivo na luta contra a infertilidade
Outro aspecto que eu gostaria de enfatizar é que a medicina reprodutiva em nada difere de outras especialidades médicas, onde busca–se um diagnóstico correto e bem minucioso antes de se estabelecer uma estratégia de trata mento que apresente as melhores chances com os menores custos físicos, emocionais, financeiros e sociais. Faço questão de insistir nesse ponto: um diagnóstico correto e uma estratégia de tratamento extremamente elaborada tendem a aumentar as chances de sucesso ao indicarem um procedimento Correto e bem dimensionado. Aliás, nunca se esqueça de que um bom diagnóstico traz a segurança necessária para que, no caso de a gravidez não ocorrer em determinado ciclo do tratamento, se tenha quase certeza de que o ocorrido deveu-se a um processo normal e não a algum erro de diagnóstico. Na realidade, quanto mais bem estabelecido estiver o diagnóstico, melhores serão as condições para se montar uma estratégia de tratamento eficaz.
Após o processo de diagnóstico, o médico vai discutir com você a eficácia e a indicação de cada forma de procedimento, levando em conta os diagnósticos estabelecidos e oferecendo o melhor tratamento possível para o seu caso. Acho importante ressaltar que os tratamentos devem ser individualizados e baseados na idade dos parceiros, no tempo de infertilidade observado, nos diagnósticos masculino e feminino e na expectativa estatística de gravidez que cada casal apresenta. Não se deve propor ou adotar um tratamento exagerada mente aumentado ou diminuído, pois isto não trará melhores resultados, mas apenas custos emocionais e financeiros para você e seu parceiro ou parceira.
Embora do ponto de vista físico os tratamentos em reprodução humana não sejam agressivos a ponto de promover complicações para a saúde do pa ciente ou de exigir internações prolongadas, do ponto de vista psicológico eles trazem várias implicações que quero comentar nestes últimos parágrafos do li VIO. Antes de mais nada, é importante que a frustração que os tratamentos de infertilidade acarretam e suas implicações psicológicas não sejam negligencia das nem pelo médico nem pelo paciente. Tampouco se deve desconsiderar o fato de que a possibilidade de abandono durante o período de tratamento é bastante alta, principalmente em decorrência dos altos e baixos psicológicos sofridos durante esse período. Aliás, é bem provável que você, caso esteja em tratamento, tenha a vontade de abandonar tudo para não viver a situação de grande incerteza que permeia a luta contra a infertilidade. E natural que você enfrente sentimentos de baixa autoestima e mesmo de frustração diante da vida. Perguntas como “Por que eu?“, “Por que comigo?” ou “O que que eu fiz para merecer isso de Deus?” também são comuns e revelam sentimentos absolutamente normais que não devem ser encarados como motivos para abandono do tratamento. Afinal, quanto mais tempo um casal permanece em tratamento, maior a chance de gravidez. Por isso, a compreensão de que a chance de engravidar se acumula e aumenta ao longo do tratamento deve estar impregnada nos sentimentos do casal, que deve considerar o desafio da persistência como uma ferramenta para a fortificação do relacionamento a dois. Bons esterileutas, por sua vez, devem considerar e valorizar os sentimentos das pessoas que têm a sua vida em suspenso à espera de um resultado para por fim à dura batalha existencial para segurar um bebé no colo.
Nunca se esqueça de que a fertilidade é uma parceria que envolve a interação entre os gametas masculino e feminino, Vários aspectos, desde a integridade do óvulo e do espermatozoide até a frequência das relações sexuais, afetam diretamente essa interação. Por isso, é fundamental que você tenha em mente que não há um culpado ou culpada pelo não acontecimento da gesta cão. A dificuldade de engravidar é sempre um problema do casal e deve ser tratada e encarada como tal. O tratamento da infertilidade, portanto, deve ser visto acima de tudo como uma verdadeira e mútua declaração de amor do casal. Nessa declaração está implícita a vontade de permanecerem juntos e constituírem uma família, onde um ver o outro como uma pessoa com valores filosóficos e humanos à altura de se tomar pai ou mãe. A tônica desse pensa mento deve permanecer em todo o período de tratamento e você não deve esmorecer em ideias negativas que podem levar ao abandono do tratamento e a impossibilidade de se realizar um grande sonho.
Particularmente, entendo o casamento como uma interação de afinidades onde existe amizade, respeito, cumplicidade e harmonia. Com isso em mente, considero de extrema importância a franqueza na expressão dos sentimentos entre os cônjuges ou companheiros durante todo o período de luta contra a infertilidade. Somente um casal unido em seus propósitos e confiante no amor mutuo conseguirá persistir nas difíceis condições de uma espera, muitas vezes prolongada, pelo tão sonhado bebê.
Por fim, quero dar–lhe uma palavra de esperança e dizer que nunca a medicina reprodutiva conseguiu tanto como nesses últimos dez anos. Atualmente, a convergência de um diagnóstico correto e de um tratamento bem realizado com a confiança na cumplicidade do parceiro e o apoio psicológico da equipe médica tem aumentado em muito o sucesso dos tratamentos. Além disso, minha experiência de 25 anos como médico esterileuta me mostrou que, por mais que um casal se sinta incapaz de suportar o sofrimento de um tratamento, ele sempre consegue superar suas próprias angustias e aproveitar a fantástica oportunidade de se fortalecer como família, sendo grande a possibilidade de ter um bebê no colo.
É minha esperança que, depois de ler este livro, você esteja mais preparado ou preparada para atravessar o período de turbulência que a infertilidade trouxe a sua vida. Além disso, espero que as informações contidas aqui tenham lhe dado força para vencer cada batalha da difícil luta contra a infertilidade.
Dr. Paulo Eduardo Olmos