DIÁRIO DE UM ESTERILEUTA 1 – Ana Lúcia e Oscar

Depois de seis anos de casamento, Ana Lúcia tinha 27 anos e Oscar já havia chegado aos 35. Nascidos em famílias numerosas, ambos tinham como certo que na sua vida em comum estaria incluída a gestação de alguns bebés. Tranquilos, até o segundo ano de casamento valeram-se de anticoncepcionais para preservar uma fase de sedimentação da vida conjugal. Então decidiram que uma criança seria bem-vinda. A partir daí, foram quatro anos de relações sexuais associadas à expectativa de uma gravidez que não aconteceu. Foi quando chegaram ao meu consultório para fazer os primeiros exames diagnósticos. 

“Doutor, não consigo entender”, disse Ana Lúcia na consulta inaugural. “Tenho a menstruação regular, de uma boa cor, e não sinto cólica”, 

Oscar completou assegurando que não manifestava nenhuma dificuldade para ejacular. “Nós nos amamos e temos relações frequentes, sempre com prazer”, acentuou. Ana Lúcia só tinha uma dúvida: “Será que a pílula anticoncepcional que tomei durante o namoro e a primeira fase do casamento me fez mal?” 

Os dois não sabiam, mas estavam reproduzindo um tipo de indagação que muitos e muitos casais costumam fazer ao esterileuta, 

Após saírem os resultados dos primeiros exames, Oscar ficou bastante surpreso quando lhe informei que, além de uma pequena obstrução nas trompas de Ana, constatamos que a sua produção de espermatozóides estava um pouco abaixo da média. “Não é possível, doutor! Não tive dificuldade em colher a amostra para o laboratório. Foi uma boa quantidade de sémen”, assegurou um pouco nervoso. Lembrou ainda o fato de seus pais e irmãos terem vários filhos, motivo pelo qual estava se sentindo cobrado pela família para também aumentar a prole. “Todos estão esperando a chegada de nosso bebê”, explicou, como se toda angústia que sentia pudesse ser fomentada apenas por expectativas externas, dando indícios da sua dificuldade de lidar com os próprios questionamentos. 

Ana Lúcia e Oscar puderam ser tratados com técnicas de fertilização em laboratório que ajudaram a resolver, ao mesmo tempo, o fator espermático de Oscar e o fator obstrutivo de Ana Lúcia. A última vez que os encontrei estavam com seu bebê de quatro meses, felizes com a perspectiva de, em breve, poderem aumentar a família, bastando um novo empurrão das técnicas de fertilização. Para chegar à indicação de uma fertilização in vitro que poupou Oscar e Ana Lúcia de tratamentos prolongados e invasiVos com resultados duvidosos, a medicina recorreu aos seus quatro campos de investigação. 

Os homens, por sua vez, consideram como sinônimo de fertilidade o fato de terem ereção e orgasmo, ejacularem e produzirem uma quantidade razoável de líquido espermático. É importante observarmos, no entanto, que o sêmen é uma associação do líquido espermático com o espermatozóide. Portanto, o excesso do primeiro não significa necessariamente abundância do segundo.